terça-feira, 12 de abril de 2016

ENTRE O LITERAL E A PARÁFRASE

ENTRE O LITERAL E A PARÁFRASE
Michael Zwaagstra
Muitos cristãos ficam perplexos com o desafio de selecionar a melhor versão da Bíblia, quando deparados com a variedade de versões a sua disposição.
Em qualquer livraria cristã é possível encontrar muitas traduções diferentes da Bíblia a disposição para venda.
Como a maioria de nós não tem a habilidade de ler em hebraico, aramaico ou grego, somos dependentes da linguagem de acadêmicos que traduziram a palavra de Deus para nós. Sabendo disso, somos privilegiados por ter a disposição várias traduções, nos possibilitando ter maior acesso à Palavra de Deus do que os cristãos nos séculos passados tiveram.
Contudo, se a tradução da Bíblia é somente uma questão de conversão de línguas antigas para o português, por que há tantas versões diferentes? Afinal, o governo canadense traduz regularmente, documentos do francês para o inglês e vice e versa, sem muita dificuldade. Por que traduzir a Bíblia seria tão diferente? A resposta para isso é que, diferentemente das línguas modernas como francês e espanhol, hebraico, aramaico e grego são fundamentalmente diferentes da língua portuguesa. Como resultado, a tradução da Bíblia é muito mais do que simplesmente converter palavras de sua língua original para a nossa língua.
Por exemplo, a tradução literal de palavra por palavra do grego para português de João 3:16 fica da seguinte forma:
“Assim pois amou Deus o mundo, que o Filho único deu, para que todo o que crê em ele não pereça mas tenha vida eterna.”
Como pode-se notar, uma simples tradução de “palavra por palavra” não faz sentido para a maioria dos leitores. Afim de alcançar uma tradução funcional, a estrutura gramatical precisa de mudanças significativas.
Tipos de Traduções
Com o risco da simplificação exacerbada, há 3 categorias principais de traduções da Bíblia:
1. Essencialmente literal: Essas traduções retém muito da forma e estrutura da língua original e oferecem uma tradução de palavra por palavra ao maior grau possível. Algumas traduções desta categoria incluem João Ferreira de Almeida, João Ferreira de Almeida Revista e Corrigida (RC), João Ferreira de Almeida Revista e Atualizada (RA), Almeida Corrigida e Revisada Fiel, Almeida Revista Imprensa Bíblica.
2. Equivalência Dinâmica: Essas traduções possuem uma abordagem de “pensamento por pensamento” que transmite o significado essencial do original escrito pelo autor. Conceitos e metáforas menos conhecidas para leitores da era moderna são frequentemente reescritos. Algumas traduções nessa categoria incluem a Nova Versão Internacional (NVI), Bíblia de Jerusalém.
3. Paráfrase Livre: Paráfrases possuem grande liberdade com o texto bíblico e procuram transmitir o significado expresso usando frases contemporâneas e metáforas. As paráfrases bíblicas mais conhecidas são Tradução na Linguagem de Hoje, Nova Tradução na Linguagem de Hoje, Bíblia Viva e A Mensagem.
Dentro de cada uma dessas categorias, há variações importantes. Por exemplo, a NVI é geralmente mais literal do que outras traduções dinâmicas equivalentes, ao passo que a Bíblia “A Mensagem” desvia-se mais do texto original do que a Bíblia Viva ou Tradução na Linguagem de Hoje. No entanto, essas categorias são uma maneira útil de fazer com que o leitor leigo diferencie a infinidade de traduções disponíveis da Palavra de Deus.
Para ilustrar as abordagens de diferentes traduções, quando traduzido estritamente palavra por palavra, o texto de Romanos 8:8 diz o seguinte: “Os porém em carne que estão a Deus agradar não podem.” Abaixo, temos um exemplo de como o texto insurge em traduções representativas de cada uma das três categorias:
Essencialmente Literal:
· “Portanto, os que estão na carne não podem agradar a Deus” (Almeida Corrigida e Revisada Fiel).
· “E os que estão na carne não podem agradar a Deus” (Almeida Revista Imprensa Bíblica).
Equivalência Dinâmica:
· “Quem é dominado pela carne não pode agradar a Deus” (NVI).
Paráfrase Livre:
· “As pessoas que vivem de acordo com a sua natureza humana não podem agradar a Deus” (Nova Tradução na Linguagem de Hoje).
As traduções essencialmente literais são as mais próximas ao texto original; o texto em grego é analisado e basicamente reescrito em uma gramática aceitável na língua para a qual está sendo traduzido. Em contraste, as traduções de equivalência dinâmica substituem a palavra “carne” por “natureza pecaminosa” e deixam explicito o que está somente implícito no texto original, expressando que aqueles que não agradam a Deus estão sob o comando da natureza pecaminosa.
O significado básico é sempre preservado apesar de algumas palavras-chaves serem adicionadas ou apagadas. A Bíblia “A Mensagem” prioriza os pontos principais, ou seja, nesse texto o sentido é de que qualquer um absorto em si mesmo é desagradável a Deus. Esta versão ainda amplia esse ponto omitindo qualquer referência direta à carne, ou natureza pecaminosa.
Qual Versão Devemos Usar?
Claramente, há muitas diferenças entre as várias traduções. Dizer que uma Bíblia é tão boa quanto a outra simplesmente não é verdade. Com isso em mente, acredito que os cristãos deveriam usar uma tradução essencialmente literal, especialmente para um estudo aprofundado ou leitura em público. Já que toda a escritura é inspirada por Deus (2 Tim. 3:16), devemos procurar ler traduções que reflitam as palavras escritas originalmente em hebraico, aramaico ou grego o máximo possível. O próprio Jesus disse, “de modo nenhum passará da lei um só i ou um só til, até que tudo seja cumprido” (Mateus 5:18), e devemos ser cuidadosos com as traduções que alteram a Palavra de Deus.
Outra razão que merece nossa atenção, é que frequentemente em casos onde há mais de um significado para um texto bíblico, o leitor que escolheu uma tradução de equivalência dinâmica ou de paráfrase livre recebe apenas a interpretação do tradutor. Veja um exemplo de Marcos 9:24:
“E logo o pai do menino, clamando, com lágrimas, disse: Eu creio, Senhor! ajuda a minha incredulidade” (Almeida Corrigida e Revisada Fiel).
“Imediatamente o pai do menino, clamando, {com lágrimas} disse: Creio! Ajuda a minha incredulidade” (Almeida Revista Imprensa Bíblica).
Ambas as traduções são essencialmente literais e preservam a fala confusa do pai. Quando diz: “Creio! Ajuda a minha incredulidade,” será que ele quis dizer que precisava da ajuda de Jesus para vencer sua incredulidade ou estava afirmando que acreditava nEle e gostaria de ter mais fé? Não sabemos ao certo, mas é algo que deve ser considerado ao ler o texto. Contudo, note como as traduções de equivalência dinâmica e de paráfrase livre apresentam esse verso:
“Imediatamente o pai do menino exclamou: "Creio, ajuda-me a vencer a minha incredulidade!” (Nova Versão Internacional).
“Então o pai gritou:
— Eu tenho fé! Ajude-me a ter mais fé ainda!” (Nova Tradução na Linguagem de Hoje).
“O pai imediatamente respondeu: “Eu tenho fé; oh, ajude-me a ter mais!” (A Bíblia Viva).
A linguagem que cada uma das traduções oferece é tão diferente porque elas apresentam uma variação de interpretações do que o pai disse. Quando o tradutor realiza o árduo trabalho de interpretar passagens desafiadoras, leitores cristãos acabam sendo privados da oportunidade de pensar por si mesmos. A realidade é que os cristãos deveriam estar preparados para lidar com passagens bíblicas difíceis, uma vez que este é um importante passo para o crescimento espiritual.
A Palavra que Transforma
Todos os cristãos, igrejas e congregações devem considerar cuidadosamente qual tradução usar para uso pessoal e para leitura em público. Estou convicto de que nos tornamos dependentes dos tradutores da Bíblia para interpretá-la. Àqueles inaptos a ler em hebraico e grego, traduções essencialmente literais são as mais próximas que temos do original das Escrituras. Vamos utilizar essas traduções com mais regularidade em nosso estudo pessoal e em leituras públicas, sem entrar no extremo de pensar que Deus falou a Jeremias na versão Almeida Revista e Atualizada. Ele falou, e o profeta não somente ouviu, mas tomou nota em hebraico. Sua vida nunca mais foi a mesma, porque a Palavra de Deus é inspirada, e também convence e corrige, transformando a você e a mim, de forma dinâmica e livre.