Há uma filosofia popular hoje em dia correndo no meio cristão que diz que tanto quanto o cristão é fiel mais próspero ele será. Essa filosofia dá o entender que Deus quer abençoar os seus fiéis com um acúmulo exagerado de bens materiais. Essa filosofia insinua se um irmão não tem muitos bens é porque ele não é muito fiel, a sua fé é fraca ou por que Deus está castigando ele publicamente por um pecado secreto no passado. Convém uma comparação dessa filosofia com a própria bíblia e ver o que é que Deus deve ao cristão fiel.
Nosso Engano
É claro para o aluno sério da Bíblia que facilmente o homem pecador pode ser enganado. Procedem do seu próprio coração, que é a fonte da sua vida (Prov. 4:23), “os maus pensamentos, mortes, adultérios, prostituição e, furtos, falsos testemunhos e blasfêmias” (Mat. 15:19). Por causa do pecado, considerando o coração, o homem não tem muito a se gloriar. O seu coração é enganoso “mais do que todas as coisas, e perverso” ao ponto de nunca conhecer a profundidade do seu próprio engano (Jer. 17:9).
Não é só o coração do homem pecador que pode ser enganado, mas também o do cristão. Quando o cristão é regenerado ele recebe uma nova natureza que não pode pecar (I João 5:18). Através dessa nova natureza o cristão tem prazer na lei de Deus. Porém, a sua velha natureza continua ativa nele conjuntamente.   Essa velha natureza, a carne, cobiça contra a nova natureza, o Espírito, impedindo a obediência completa (Romanos 7:11-25; Gal. 5:17). Existem na bíblia inúmeros casos de cristãos, e até de igreja inteiras errando e assim nos dando provas convincentes que o homem cristão pode ser bem enganado (Adão e Eva, Gên. 3:6; Davi, II Sam 11; Jonas; Ananias e Safira, Atos 5; as igrejas da Ásia, Apoc 2,3).
No assunto dos bens materiais, o engano do coração do homem é bem evidente. O que o homem pode ver, sentir, tocar e possuir influencia ele em muito. A concupiscência da carne, junto com o enganoso coração do homem, influencia os pensamentos do homem acerca de seu Deus e exercita uma ação não boa sobre o homem quando ele quer entender passagens bíblicas. Tal predomínio é evidenciado quando o homem começa de pensar que Deus o deve muitos bens materiais.
O engano do coração dos homem é entendido até pela lógica. Se é verdadeiro que a quantia de bens materiais exemplifica o favor com Deus, então os da classes mais altas da sociedade devem ser os mais espirituais. Porém, a verdade é que o oposto é geralmente verdadeiro (Luc. 21:1-4; I Cor. 1:26-29). A verdade declarada da bíblia é: “é mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar um rico no reino de Deus” (Mat. 19:24). O espiritualidade maior não traz maior riqueza, nem a riqueza traz maior espiritualidade. O espiritualidade traz uma morte maior à carne e tudo o que é do mundo (Gal. 2:20; I João 2:16). A riqueza traz tentação, e um laço, e muitas concupiscências loucas e nocivas, que submergem os homens na perdição e ruína (I Tim 6:9). O reino de Deus não é deste mundo (João 18:36). A espiritualidade verdadeira é a imagem de Cristo no cristão (Romanos 8:29; 14:17).
E além da lógica, temos o mandamento de Cristo de não ajuntar tesouros da terra mas no céu (Mat. 6:19-21). Deve ser claro a todos os cristãos que ninguém deve esperar que Deus nos dê grandes tesouros na terra quando o ajuntamento de tais tesouros já é proibido por Ele.
O anseio de adquirir muitos ou melhores bens do que já temos, é relacionado diretamente com o nosso grau de contentamento. Pode ser que a falta de contentamento é o que impulsiona a crença popular hoje em dia que Deus deve ao cristão fiel muitos bens materiais. A predisposição do homem ser descontente é entendido pelo provérbio: “Como o inferno e a perdição nunca se fartam, assim os olhos do homem nunca se satisfazem” (Prov. 27:20). O contentamento com o que tem não é um comportamento natural do homem mas é um comportamento dos maduros na fé (Fil. 4:11, “… Já aprendi a contentar mim com o que tenho.”). A espiritualidade, que nos ensina a termos costumes sem a avareza, é completamente contente com as promessas de Deus de nunca nos deixar e nunca nos desamparar (Hebreus 13:5). Este grau de espiritualidade, junto com o contentamento, é verdadeiramente um “grande ganho” do cristão (I Tim 6:6-8). Os bens materiais, sejam poucos ou muitos, para o cristão verdadeiro, são imateriais para sua felicidade na terra.
Nossa Instrução
O Salmo 23 pode ser o usado por alguns a nos ensinar que Deus nos deve bens materiais pois é declarada abertamente: “Nada me faltará” (v. 1). Muitos podem querer dizer que os “verdes pastos”, as “águas tranqüilas”, a mesa farta na presença dos inimigos e o cálice transbordando deste Salmo apontam à verdade que Deus sempre se interessa em encher o Seus com bens materiais. Mas, comparando versículo com versículo entendemos que as bênçãos de ser uma ovelha deste pastor traz possessões muito além daqueles bens materiais que a traça e a ferrugem consomem e aqueles que os ladrões podem mirar e roubar.
A bíblia nos diz que Cristo é o “Bom Pastor” (João 10:11,14). A bíblia também nos ensina o que é que o “Bom Pastor” dá às suas ovelhas. A bíblia não nos ensina que o “Bom Pastor” necessariamente veste as suas ovelhas com a última moda nem fornece transporte moderno nem prometa saúde plena. O que o bom pastor dá às Suas ovelhas é a Sua vida (João 10:11, 15, “… Dou a minha vida pelas ovelhas.”). Ele veio justamente para dar a Sua vida, para que pela Sua vida, os seus “tenham vida, e a tenham com abundância” (João 10:10; I Tim 1:16, “Cristo Jesus de veio ao mundo, para salvar os pecadores”; Luc. 19:10, “Porque o Filho do homem veio buscar e salvar o que se havia perdido.”). Para ninguém duvidar da natureza desta vida abundante que Cristo dá, Ele ensinou enfaticamente que Ele dá às suas ovelhas “a vida eterna” (João 10:28). O fato desta vida por Cristo ser eterna, segura, celestial, sem nenhuma condenação é o que Ele refere quando declara que essa vida é “abundante”. Mesclar a razão da vinda de Cristo ao mundo com o nosso acúmulo de mais e melhores bens materiais é fazer desrespeito ao decreto eterno de Deus para o seu Filho vir ao mundo e é distorcer o propósito das profecias que nos ensinem acerca desta vinda de Cristo. Interpretar as palavras de Jesus a dizer que Deus quer que nos ajunte tesouros na terra é invalidar o seu propósito principal (Mat. 15:6).
As ovelhas do “Bom Pastor” não se preocupam do dia de amanhã, não ajuntam tesouros na terra, nem gritem desenfreadamente pedindo riquezas.Elas se satisfazem em ouvir a Sua voz(Sal 1:2,3, “tem o seu prazer na lei do SENHOR, e na Sua lei medita de dia e de noite.”). A ovelha que é cuidada pelo “Bom Pastor” é satisfeita com Ele(Sal. 119:57, “O SENHOR é a minha porção;”). A ovelha deste “Bom Pastor” não está procurando prazeres do mundo que satisfazem à carne, mas seguem Ele (João 10:27, “As minhas ovelhas ouvem a minha voz, e eu conheço-as, e elas me seguem;”). Enquanto as ovelhas seguem o “Bom Pastor” elas acham pastagens que alimentam as suas almas (João 10:9; Sal. 16:5, “O SENHOR é a porção da minha herança e do meu cálice; Tu sustentas a minha sorte.”; Col. 3:10, “E vos vestistes do novo, que se renova para o conhecimento, segundo a imagem daquele que o criou;”; II Cor. 4:8-18, “Não atentando nós nas coisas que se vêem, mas nas que se não vêem; porque as que se vêem são temporais, e as que se não vêem são eternas.”; Efés. 4:23,24, “E vos renoveis no espírito da vossa mente;”). Entendendo bem essas verdades podemos afirmar: quando estamos tristes por falta de alguma coisa na terra, somos realmente descontentes com o próprio “Bom Pastor” e com o Seu propósito eterno para conosco.
Tanto o propósito de Cristo vir, quanto o desejo de Deus para com os Seus é de e espiritual e não físico. Deus quer que os Seus se transformam na imagem do Seu Filho (Romanos 8:29). Para obter este objetivo Deus pode, sem danificar qualquer propósito da bíblia, e sem ter propósitos de castigo ou ira, sujeitar os Seus a humilhação, a fome, a várias tentações e tribulações (Deut 8:3; Tiago 1:3,4; Romanos 5:4,5).
Se já conhece o “Bom Pastor” e sabendo que Ele conhece bem as Suas ovelhas, regozije no fato que não falta nada para o que é melhor para elas. O que era melhor para elas é de ser aceitável diante de Deus e para crescer na Sua imagem (Fil. 2:13; I Pedro 3:18; Judas 24,25).
Muitos querem usar Isaías 53:5, “… e pela suas pisaduras fomos sarados” para ensinar que pela morte de Cristo somos sarados de qualquer enfermidade física enquanto trilharmos o nosso caminhar terrestre. Usem também Tiago 5:16, “orar uns pelos outros, para que sareis. A oração feita por um justo pode muito em seus efeitos.” Não descontando o fato que Deus pode ainda curar e ainda é um Deus de milagres, devemos lembrar uns fatos importantes quando falamos do propósito da salvação por Cristo.


Tendo, porém, sustento, e com que nos cobrirmos, estejamos contentes.” (I Tim 6:6-8); “Sejam vossos costumes sem avareza, contentando-vos com o que tendes; porque ele disse: Não te deixarei, nem te desampararei” (Hebreus 13:5).
A promessa do Senhor ao fiel Cristão é: segundo as Suas riquezas, suprir todas as suas necessidades (Fil. 4:19). A capacidade de Deus é imensa sem a menor dúvida. Para o fiel cristão Deus opera para que ele abunda em toda a graça e que tem sempre “toda a suficiência” e não satisfazer todas as possibilidades de adquirir bens da terra (II Cor. 9:8). O cristão, como qualquer outro ser humano, tem necessidades de comer, de beber e de vestir-se. Deus também sabe que o cristão tem estas necessidades. Ele promete que aquele que busca primeiramente o Seu reino e a Sua justiça, todas essas necessidades serão acrescentadas (Mat. 6:25-33). Se o cristão fiel está procurando por algo além de ter as suas necessidades suprimidas ele está procurando por mais que o Senhor prometeu.
Uma maneira de ter o que necessitamos é pela liberalidade para com a obra de Deus (II Cor. 9:7,8; Mal 3:10-12). Usando o que temos para a glória do Senhor traz as bênçãos do Senhor sobre o que já temos. Também uma maneira de ter o que necessitamos é pelo trabalho honesto (II Tess 3:10, “se alguém não quiser trabalhar, não coma também”; Prov. 13:11, “ mas quem a ajunta com o próprio trabalho a aumentará”; Ecl. 2:24; 3:13; Atos 18:3, Paulo “trabalhava”; I Tess 4:11,12, “trabalhar com vossas próprias mãos”; Efés. 4:28, “fazendo com as mãos o que é bom, para que tenha o que repartir com o que tiver necessidade.”). Podemos observar que as próprias aves do céu que o Pai celestial alimenta têm que voar em busca do que Deus intenta providenciar para elas (Mat. 6:26). Quando honramos ao Senhor com os nossos bens com uma primeira parte de todos os nossos ganhos Ele não será mesquinho com as bênçãos dEle (Prov. 3:9,10). Porém, o que buscamos do Senhor e o que esperamos dEle nunca deve ser um acúmulo exagerado de bens materiais. Ele é a porção do cristão fiel e essa Porção satisfaz completamente o servo fiel (Lam. 3:24). Conhecendo o Senhor intimamente basta para qualquer cristão mesmo quando a liberalidade e o trabalho com as mãos não faz que haja sobras (II Cor. 12:9, “a minha graça que basta”).
O nosso alvo principal deve ser a obtenção da imagem de Cristo e não os bens temporais. O propósito de toda a obra da salvação é para que sejamos “conforme à imagem de Seu filho, a fim de que Ele seja o primogênito entre muitos irmãos”, (Romanos 8:29). O cristão fiel tem o alvo principal de ter os seus passos dirigidos nos caminhos do Senhor e não de ter as suas raízes bem estabelecidas no mundo (Sal. 17:5; Prov. 30:7-9). Por causa do alvo principal da salvação ser de fazer nos conforme à imagem de Cristo podemos entender o erro da filosofia que diz: tanto mais fiel à Deus, mais riquezas teremos.
Cristo ensinou-nos a buscar primeiro o reino de Deus e a Sua justiça (Mat. 6:33). O reino de Deus “não é deste mundo” (João 18:36). O reino de Deus “não vêem com a aparência exterior” (Luc. 17:20) nem “é comida nem bebida, mas justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo” (Romanos 14:17; Col. 1:13). O reino de Deus é de ter Cristo como o seu Salvador e Senhor. Este reino de Deus é o observado numa pessoa quando ele se arrependa dos pecados e tem fé em Cristo como o seu Salvador. Este reino de Deus é evidenciado ainda mais pela obediência da palavra de Deus (João 17:17; Mat. 7:24,25). Este é reino de Deus luta contra a carne (Romanos 7:18, 23; Gal. 5:17), mortifica a carne (Gal. 2:20) e busca para as coisas que são de cima e não nas coisas que são da terra (Col. 3:1-3).
Na carta à igreja em Laodicéia, uma igreja com a suas raízes bem estabelecidas no mundo enquanto achava que era espiritual, Cristo aconselhou: “que de Mim compres ouro provado no fogo para que enriqueças; e roupas brancas, para que te vistas, e não apareça a vergonha da tua nudez; e que unjas os teus olhos com colírio, para que vejas” (Apoc 3:18). Tudo o que o cristão fiel precisa para cumprir a sua razão de existir na terra é de ter a imagem de Cristo nele. E isso é o que Cristo quis dizer quando aconselhou: “compres de Mim”. Ajuntar bens na terra é cansativo e trabalhoso (Ecl. 2:26), mas viver Cristo cumpra o desejo de Deus para os Seus e é o caminho para as bênçãos espirituais.
Destaco novamente: Os bens materiais, sejam poucos ou muitos, para o cristão verdadeiro, são imateriais para sua felicidade na terra.
Você tem o principal que é a imagem de Cristo na sua vida? A sua preocupação maior é o que é eterno e espiritual? Semear para a carne, dará em corrupção (Gal. 6:8). “Que aproveita ao homem a ganhar o mundo inteiro, se perder a sua alma?” (Mat. 16:26). E, se tenha Cristo, o que falta? (Sal. 23:1). Que possa conhecer as bênçãos de Deus por Cristo tanto aqui quanto no além é o nosso desejo.